O momento é quase muito perfeito – mas para ele, isso não existe. Ele vai para oeste na Sunset Boulevard em seu grande e preto Cadillac modelo antigo com vidros fumê, passando direto por um fluorescente pôr do sol cor de rosa no horizonte. É um glorioso fim de tarde de sábado em West Hollywood, e por que não seria? Bruno Mars tem outra música número 1, uma turnê toda agendada, uma garota que ele ama e absolutamente nenhuma preocupação, nada pesando em sua cabeça. Exceto pela ideia de ficar doente e cancelar um show. Ele não pode suportar a ideia de perder um show.
Ele comprou o Cadillac – Bessie, como ele chama – imediatamente depois de ter ganho seu primeiro grande pagamento de sua gravadora. É uma idéia antiga de carro para um homem, mas combina com ele. Mars é um tipo de popstar vintage, um showman com covinhas, bem vestido, de voz elástica e charmoso para as mulheres que teria o mesmo sucesso em meados de 1960 (apesar de que ele cantaria bem menos frequentemente as palavras “filho da puta”).
Mars troca o rádio de estação, colocando em uma de R&B antigos que está tocando “Nasty”, de Janet Jackson. Ele aumenta o volume, cantando junto. “Jimmy Jam, certo?”, ele diz acertando o nome de um dos produtores da música. A janela está abaixada e nós ouvimos um fraco e feminino “Bruuuno!” de um carro que está passando. “Corra!”, Mars diz mostrando dentes muito brancos. Diferentemente do colega (de profissão*) Geddy Lee (da banda Rush*), Mars fala como um cara comum: sua voz é alta, fraca e suficientemente eufônica (que tem o som agradável*), fazendo com que as pessoas pressuponham que ele é um cantor só de ouvi-lo falar.
Com calça marrom, Bruno está vestindo uma camisa de mangas curtas havaiana com flores e pássaros – já que ele é do Havaí, tudo bem. Nos pés, sapatos de crocodilo (sem meia, como sempre); na cabeça, um fedora marrom. Ele usa esses chapéus para não ter que lidar com o cabelo cacheado, que está grande o suficiente para parecer com Sideshow Bob (personagem de Os Simpsons*).
Como Jessica Alba, Mars é multiétnico, quase futuristicamente bonito: é como se seu rosto tivesse sido feito por uma discussão de grupo. O filho de pele dourada de um porto-riquenho/judeu e uma mãe filipina, ele nunca pensou muito sobre raça no Havaí. “Todo mundo é misturado lá, meio marrom porque é ensolarado”, ele diz. “Então foi um choque quando eu vim para cá”. Ele ficou surpreso quando os executivos tiveram problema em categorizá-lo. “Eles falaram sobre ‘que estação de rádio tocaria isso?’. E isso basicamente vira um ‘quem vai comprar seus discos? Gente negra ou branca?’”.
Quando o trânsito se arrasta, ele gesticula para o outro lado da rua. “Eu costumava morar ali embaixo, em Mansfield – era bem ruim”. Isso foi há mais ou menos nove anos atrás, quando ele veio para LA. Uma vez, lembra, ele parou em sua vaga de estacionamento e ela já estava ocupada por um mendigo. “Era um cara cagando na minha barraca”, ele diz. “Sem papel higiênico, sem nada! Foi simplesmente podre e ninguém limpou. Então, toda manhã, eu era lembrado de onde eu estava”.
Começou do fundo e agora ele está aqui – exceto pelo fato de que Mars começou perto da metade. Ele tem 27 anos e está no show business desde que começou a imitar Elvis Presley com a banda de sua família aos dois anos. É um quarto de século de carreira, o que significa que ele tem mais experiência de palco que, vamos dizer, Justin Timberlake. E os seus pais experientes cujo ofício era o palco ensinaram-o o charme da Motown desde o nascimento. Seu pai, Peter “Dr. Doo-Wop” Hernandez, se lembra de abaixar as luzes na sala de parto enquanto sua esposa dava a luz, então era “quase como uma balada” e tocando músicas “antigas, mas boas” em um toca-cassetes para recepcionar Bruno – nascido Peter Gene Hernandez – em sua vinda ao mundo.
Com quatro anos de idade, Mars apareceu como um pequeno Elvis em “Lua de Mel a Três” (Honeymoon in Vegas) e foi entrevistado por Pauly Shore na MTV. Com seis anos ele apareceu no The Arsenio Hall Show. Enquanto estava na escola primária, ele cantou com a banda de sua família em um clube cheio duas vezes por noite, expandindo seu repertório para Frankie Lymon e Little Anthony. Mas por volta dos 11 anos, como ele explica, tudo acabou. Não é um exagero dizer que ele passou os últimos 16 anos tentando voltar.
Mars pede a cada um de nós um cocktail que não só é super doce mas é servido num copo de Cosmopolitan como em Sex And The City. “Agora nós realmente estamos num encontro de homens”, ele diz. Nós dois decidimos pela mesma entrada de peixe. “Eu vou querer bacalhau”, ele diz à garçonete com um sorriso, “e meu namorado vai querer a mesma coisa”.
Quando Mars está no palco, confiança se derrama na vida realmente e ele pode ficar charmosamente exibido: o cara mais trabalhador do show business. Mas ele pode parecer também contundentemente inseguro, procurando por aprovação de uma maneira que talvez não seja surpreendente para um cara que cresceu esperando dois shows de aplausos a cada noite. Nós estamos conversando a horas no Soho House quando ele me pergunta de repente, com uma voz suave, “você gosta do disco?”.
Eu digo a ele que sim, e eu realmente gosto – seu segundo álbum cheio de estilos, Unorthodox Jukebox, é um salto a frente de sua estreia, Doo-Wops & Hooligans, que era pesado, encharcado de baladas.
Mas ele não está satisfeito: “Sério? Quais músicas?”. Ele não sossega até que eu fale quatro ou cinco. Mencionar “Gorilla” me rende um fist bump (semelhante ao brasileiro “bate aqui”, mas com os punhos fechados*).
“Dois-tempos! Meio tempo! Quebra!”. Não é fácil achar atualmente músicos jovens fluentes no estilo dinâmico de Famous Flames (banda de R&B que acompanhou James Brown*) – mas muitos dos oito caras da banda de turnê de Bruno cresceram cantando em igrejas gospel, onde essas capacidades ainda são obrigatórias. Algumas horas antes de nosso jantar, Mars coloca seus amigos à prova em um estúdio de Hollywood, exercitando grande parte do set de sua turnê: “não é bom, baby?”, Mars canta suavemente com seu tom de tenor e voz de seda, enquanto a banda diminui o ritmo. Ele começa a animar a platéia inexistente: “não é bom, lado esquerdo? E agora do lado direito?”.
O baterista chamativo da banda, um musculoso cara chamado Eric Hernandez, está sempre pronto para bater no prato ou fazer silêncio ao menor movimento do braço de Mars – e ele foi o recrutamento mais fácil de Mars: ele é o irmão mais velho de Bruno, que abandonou uma carreira de dez anos como policial para manter a tradição musical da família. “Eu sabia, eu tava tipo ‘se eu não desistir e ficar vendo outro cara tocar bateria pro meu irmão, isso vai me comer por dentro”’, diz Eric. Com 1.65m, Bruno é talvez 7 centímetros mais baixo que ele. “Mas eu digo honestamente, eu queria ter o seu estilo”, Eric completa. “Eu estou pegando dicas daquele carinha, na verdade”.
Descontraído como ele é, Mars espera perfeição. “Eu nunca vi ninguém ser tão meticuloso na minha vida inteira, em qualquer coisa”, diz Ari Levine que, com Phil Lawrence, forma com Mars o time de composição e produção conhecido The Smeezingtons. “Mesmo quando nós remodelamos nosso estúdio, se uma coisa estivesse fora do lugar por um centímetro, isso o deixava louco. Beira a neurose, mas da melhor maneira possível”. Eles passaram dois meses, por exemplo, para criar o segundo verso de “Moonshine”.
Mars sabe que ele grita durante os ensaios. “Eu sempre digo pra todo mundo que nós finalmente aproveitamos todo o trabalho duro que tivemos quando nós tocamos e cantamos. Então não fode esse bom momento, entende o que eu digo?”.
Nesse momento, Mars está aficionado numa parte de duas músicas do set, onde a música influenciada pelo reggae “Show Me” se torna perfeitamente a sua faixa mais antiga “Our First Time”. Ele também está insatisfeito com os movimentos sincronizados da banda durante a música – ele quer que eles estejam coreografados sem parecer que estão. Ele anda três passos no carpete, acende um cigarro American Spirit e os olha de frente, de onde ele determina que o guitarrista, Phred, é quem não está dançando direito. “Nós estamos gastando muito tempo nessa merda”, Mars diz, eventualmente – e acaba deixando os passos de qualquer jeito.
O ensaio logo se torna uma sessão de improviso, com Mars sentado tocando teclado e cantando “The Most Beautiful Girl In The World”, de Prince. Depois, ele diz que apanhou o sentimento dela para o refrão indelével de sua canção de estreia “Nothin’ On You”. “Nós podíamos fazer um medley de músicas que falam de ‘bonito’”, ele brinca, e então, imediatamente, ele canta acapella pulando de “You’re So Beautiful” para “Wonderful Tonight” para “You’re Beautiful”, de James Blunt.
De volta ao palco, Bruno toca uma versão com sintetizadores de “Also Sprach Zarathustra”, também conhecida com a música de abertura da era de shows de Elvis em Vegas e então pula para trás da bateria. Phred começa “Fire”, de Jimi Hendrix e Mars toca uma aproximação crível da bateria de jazz de Mitch Mitchell. Ele não faz isso no show por medo de se tornar um número de circo. “Bruno manda bem na bateria”, diz seu irmão antes de completar com uma risada, “mas eu acabo com ele”.
Finalmente, Mars dispensa a banda – é hora de ir para seu encontro de homem. “Bom trabalho, pessoal”, ele diz. “Nós vamos mudar tudo na segunda”.
Assim como Alvy Singer, Bruno Mars nunca teve um período de latência: ele sempre esteve atrás das garotas. No jardim de infância, ele ficou hipnotizado por belas garotas num vestido com glitter que ele viu nos bastidores. “Eu fiquei tipo ‘essas garotas não parecem com as garotas com que eu estudo’”, ele lembra, os olhos iluminados.
Desde o começo, ele amava tudo sobre fazer shows com a banda da família, o Love Notes. “Eu ficava ansioso pra sair da escola”, ele diz. “Olhando pro relógio, esperando para dar 2:15”. Mars decorava vídeos de Elvis, James Brown e Michael Jackson e até hoje ele imita a performance de “T.A.M.I” de Brown ou Hendrix em Woodstock ou Prince cantando “Purple Rain” antes de subir ao palco.
Uma noite, quando Mars tinha cinco anos, ele esqueceu de fazer xixi antes do show e acabou molhando sua roupa enquanto cantava “Can’t Help Falling In Love”. A plateia tentou não rir e sua mãe chorou – afinal de contas, seus pais não se perguntavam se não estavam cometendo um erro. Mars mesmo nunca se perguntou.
Os Love Notes que se especializaram em Doo-Wop e outros estilos musicais dos anos 50, faziam tanto sucesso quanto uma banda cover local poderia ter. O pai de Mars, Peter, pagava aos membros da banda 1000 dólares por semana no seu auge, de acordo com um membro, o amigo da família Bobby Brooks Wilson. Peter também estava indo bem como empresário, com os negócios indo de um modesto salão de tatuadores à duas enormes lojas de antiguidades. O pai de Mars é bonito e fala suavemente – ele conheceu a mãe dele, Bernadette, numa revista polinésia. “Ele era um percussionista de Hula”, Mars recorda. “Minha mãe era uma dançarina de Hula. E ele jogou charme nela”.
No auge de seu sucesso, Peter tinha sete Cadillacs e a família vivia numa grande casa em Kahala. “Bruno tinha um quarto do tamanho da sala de estar de muitas pessoas”, se lembra Wilson. “E ele tinha uma pequena bateria, uma pequena guitarra, um pequeno piano, você sabe, alguma percussão. Ele me levaria em seu quarto: ‘Bobby, olha! Eu sei tocar isso!”. Wilson se lembra de Mars fazendo beicinho nos bastidores quando ele tinha sete ou oito anos – ele estava furioso porque tinha uma gripe forte e sua mãe o deixou no banco aquela noite.
Quando Bruno tinha mais ou menos 11 anos, a banda terminou e o casamento de seus pais também. Por razões que Mars não sabe direito, os negócios de seu pai também. Todo o dinheiro deles se foi e Mars se mudou com seu pai para “as favelas do Havaí”. Foi uma mudança difícil. “Mas você sabe de uma coisa? Eu percebi que eu não trocaria aquilo por nada, cara”, ele diz, bebericando uma cerveja no Soho House. “Porque eu senti que eu poderia aproveitar muito aquilo”.
Mars se acostumou a ser uma estrela entre seus colegas de classe, mas em sua nova escola ele sofreu bullying. Ele tinha um apelido, “Peter Pan Hyma Dingler” (algo como “Peter Pan chato”, em tradução literal. “Hyma” é uma gíria para legal e “dingler” também é uma gíria para uma pessoa que se esforça muito para ser legal, mas não é*). A primeira parte do apelido vem de seu jeito, a segunda parte permanece inexplicada. “Até os nerds me chamavam assim!, ele ri. “Oh, cara, foi difícil. Eu nem queria ir pra escola. “Mas então os caras que me chamavam daquilo se tornaram grandes amigos”. Ele foi popular pelo resto de seus dias na escola – seus melhores amigos eram da atlética – mas ele nunca se esqueceu de como era ser um excluído.
Apesar de tudo, o pai de Mars nunca perdeu a fé naquilo que ele acreditava ser o destino de seu menino. Um dia, ele e Bruno fizeram um último esforço vendendo o resto de sua coleção do Elvis em um sebo, ganhando 125 dólares. No fim do dia, Bruno apontou uma guitarra Fender e seu pai lhe comprou na hora. “Era literalmente todo o dinheiro que ele tinha”, Mars diz.
Seu pai lhe ensinou músicas de Ventures, Chuck Berry e Carlos Santana na guitarra, mesmo que Mars estivesse bem mais na música moderna, gravitando ao redor da produção dos Neptunes e Timbaland. Seu pai começou outra banda; Mars levantaria e cantaria músicas como “My Girl”, e também abriria o show com sua própria banda de garotos no estilo *N’Sync, os School Boys.
Durante uma reunião enquanto estava no segundo ano, Mars subiu ao palco e cantou “Pony”, de Ginuwine. Os professores gritaram com ele por cantar a palavra “horny” (excitado*); as garotas ficaram malucas. Mars se sentiu renascido. “Depois daquilo, eu andei pelos corredores como se eu fosse Sinatra”, ele diz. “Eu tava tipo ‘OK. Eu não sou só um imitador’”. Ele para e então começa a rir: “eu também posso imitar Ginuwine!”.
Mars passou pelo que foi o auge do entretenimento havaiano, ganhando 75 dólares por noite para abrir um grande show de mágica e interpretando Michael Jackson numa reunião de imitadores de celebridades. Ele era muito bom, como vídeos do Youtube demonstram – ele tem bem mais talento para a dança do que mostra agora. “Só porque eu sei fazer o moonwalker não quer dizer que eu deva fazer o moonwalker”. Ele também estava numa posição de agir para cumprir suas fantasias de bastidores: de acordo com Wilson, Mars começou a namorar uma backing vocal de 20 anos quando ele tinha 16, sendo o relacionamento permitido por sua mãe. Mars é mais discreto sobre o seu sucesso ainda jovem com as mulheres. “Minha mãe e meu pai me ensinaram que um cavalheiro não beija e sai contando”, ele diz.
No canto da sala de Mars, perto de uma lareira que está acesa apesar do tempo perfeito, está um piano Steinway feito de rica madeira marrom escura – um instrumento tão opulento que Elton John talvez se perguntaria se pode comprá-lo. Soa muito bom também; Mars está sentado tocando suas teclas, mostrando como compôs sua quinta música número 1, “When I Was Your Man”. Ele está justificadamente orgulhoso de que a gravou somente com voz e piano.
Também é a música mais pessoal lançada por ele, que evita ser muito confessional. “Eu não sou fã de indulgência pessoal”, ele diz. “Para mim, música é ‘eu quero me sentir bem’ ou ‘eu quero dançar’, em oposição a cantar sobre crescer no Havaí e ‘minha luta para me relacionar’”. Ele canta a última parte de modo zombeteiro. “Ninguém quer ouvir isso. Eu não quero ouvir isso e essa é a minha história!”.
Como extrema relutância, Mars revela que escreveu “When I Was Your Man” sobre sua namorada atual, a modelo Jessica Caban – ele sentiu que corria risco de perdê-la à época. A música começou com acordes simples e um verso que refletia seus arrependimentos: “eu deveria ter lhe comprado flores”. Ele é tão estranho falando sobre isso, contudo, que em um ponto ele enfia a cabeça entre os braços na mesa. “Eu não vou responder nenhuma pergunta sobre essa música”, ele protesta. “É muito pessoal”.
A narrativa da música é exagerada: Caban nunca trocou Bruno por outro cara. Na vida real, ele diz que “foi um final feliz”. Mas ele acha a música difícil de tocar. “Você está derramando suas estranhas e então grava isso. E você está tão orgulhoso. E então quando você toca, você sabe, você está trazendo todas essas emoções à tona de novo. É como sangrar!”.
Com a turnê se aproximando, o relacionamento dele será à longa distância de novo. “Quando você acha a mulher certa, você a compra flores e segura a porcaria das suas mãos”, ele diz, citando a si mesmo. “Mesmo se for pelo Skype?”. “Sim”, ele diz cantando, “I should have Skyped you and gave you a tweet” (eu deveria ter falado com você no Skype e te dado um tweet*).
Mars floresceu tarde como compositor – foi a parte final de seu quebra-cabeça. Ele deixou o Havaí após se graduar (mal) no colegial, assinando um contrato com a Motown, que acabou não tendo ideia do que fazer com ele. Quando aquilo desmoronou, ele percebeu que teria que começar a escrever e se ligou com Lawrence, um talentoso liricista. A intenção era ajudar Mars a ser contratado de novo, mas quando eles ficaram sem dinheiro, eles adicionaram Levine e se ligaram à cena dos “contratados para gerar hits” de Los Angeles, escrevendo para as Sugababes e Sean Kingston. Duas de suas melhores produções – “Nothin’ On You” e “Billionaire”, essencialmente refrões e batidas com espaços em branco para rappers – tornaram-se sucessos estrondosos, com Mars cantando os refrões. Eles correram para lançar seu primeiro álbum enquanto as músicas ainda estavam nas paradas.
Agora, Mars está bem satisfeito com escrever músicas para outros artistas. “Aquela parte de mim meio que morreu”, ele diz. “Porque, você sabe, não é um esporte”. Ele diz que os ouvintes estão cansando do “circuito Los Angeles” que o tornou um sucesso. “Eu acho que as pessoas querem ouvir o artista falando”, ele diz.
Mars vai para fora, para o seu jardim de palmeiras, onde uma piscina brilha debaixo do mais azul dos céus. Hoje, como na maioria das manhãs, ele acordou por volta das 10 e nadou com seu Rottweiler. Ele está vestido com um moleton Dolce & Gabbana com o rosto de Tyson, shorts batidos e sandálias de couro.
No fundo da piscina, um pequeno robô está limpando. Mars está sentado numa cadeira olhando para as montanhas à distância. Ele está ociosamente tocando um violão Guild acústico, amarelo (quando eu admiro isso, ele tenta me dar como presente). Há um momento atrás ele estava tocando “Europa”, de Santana; agora ele dedilha “We Are Young”, do fun., que ele meio que pensa que deveria ter escrito. “Aqueles são acordes que eu soube minha vida inteira. Eu ouvi aquilo logo de princípio e fiquei tipo ‘merda, eles fizeram’”.
Ele está tentando frear suas ambições, no entanto. “Eu já estou coçando para entrar em estúdio”, ele diz soltando um suspiro. “Mas eu estou tentando aproveitar mais o momento – eu costumava ser pego, tipo, revivendo minha vida de trás pra frente – tipo, isso é onde eu quero levar a música”. Ele acende um cigarro – ele espera parar logo, apesar de que ele não está muito preocupado sobre o efeito em sua voz (“eu poderia agüentar perder algumas notas do alcance pixie, o alcance de um gnomo”).
Ultimamente, ele se encontra sentindo saudades do Havaí. “Todo mundo é tão contente lá”, ele diz. “Você está aqui para ser alguém. Ninguém está apenas vivendo. No Havaí a mentalidade é mais ‘nós estamos no paraíso e nós estamos, você sabe, vivendo”.
Ele obteve de volta tudo que perdeu e mais alguma coisa e a verdade é que ele não planejou muito à frente desse ponto. “Eu não sei onde vou parar”, ele diz. “Mas eu quero continuar escrevendo músicas, cara. Tem uma sensação que você obtém de escrever uma boa música que você não consegue em nenhum outro lugar. Você sempre quer essa sensação do mesmo jeito que você sempre quer comer, você sempre quer estar apaixonado”.
Ele nunca imaginou a vida sem plateia e aplausos. “Esteve comigo por tanto tempo”, ele diz. “Você sabe, sempre foi ‘tudo bem, te vejo depois. Vou fazer um show”. Mas não tem show essa noite, sem ensaios essa tarde – pelo menos uma vez não há lugar em que ele tenha que estar. Mars descontrai em sua cadeira, dedilhando seu violão próximo de suas precisamente arranjadas palmeiras debaixo do vasto céu sem nuvens. Tudo está bem perfeito e, por um momento, ele está apenas vivendo.